Genes de Neandertais podem explicar distúrbio em que cérebro se projeta para fora do crânio

Genes de Neandertais podem estar ligados a condição em que o cérebro se projeta para fora do crânio
Fragmentos de DNA herdados de Neandertais podem ajudar a explicar a malformação de Chiari tipo I, uma condição em que parte do cérebro se desloca pela base do crânio em direção à coluna vertebral. O estudo mais recente sugere que essa condição pode ter raízes genéticas ligadas ao cruzamento entre Neandertais e humanos modernos.

A malformação de Chiari tipo I afeta o cerebelo, região do cérebro responsável pelo controle dos movimentos. Em pessoas com essa condição, a parte inferior do cerebelo atravessa a abertura na base do crânio e pressiona a medula espinhal. Os sintomas podem incluir dores de cabeça, tontura e dores no pescoço. Casos graves podem ser fatais se houver comprometimento das funções cerebrais.

Em quadros leves, o tratamento pode ser feito com medicamentos, como relaxantes musculares. Já em situações mais severas, pode ser necessário remover cirurgicamente partes do crânio ou das vértebras para aliviar a pressão sobre o cérebro. A condição foi identificada no século XIX pelo patologista austríaco Hans Chiari e é tradicionalmente considerada rara, afetando cerca de uma em cada mil pessoas. No entanto, estudos com exames de imagem recentes sugerem que a condição pode ser muito mais comum, afetando mais de uma em cada cem pessoas sem sintomas evidentes.

O que causa exatamente essa condição ainda não está totalmente claro. Sabe-se que ela ocorre quando o osso occipital, na parte de trás do crânio, é pequeno demais para conter o cérebro de forma adequada. Uma hipótese proposta por cientistas em 2013 é que a condição possa ter surgido a partir do cruzamento entre Neandertais e humanos modernos, o que teria influenciado o formato do crânio nas populações não africanas.

Neandertais possuíam crânios mais alongados e angulares, ao contrário dos humanos modernos, cujos crânios são mais arredondados. O estudo sugeria que a presença de DNA neandertal poderia causar desajustes entre o tamanho do cérebro e a estrutura óssea do crânio, especialmente na base, levando ao surgimento da malformação. Estima-se que indivíduos de origem não africana tenham entre 1,5% e 2% de DNA neandertal em seus genomas.

Para testar essa teoria, o novo estudo analisou tomografias computadorizadas tridimensionais de 103 pessoas, sendo 46 com a malformação e 57 sem. Esses dados foram comparados a fósseis de ancestrais humanos, incluindo Neandertais e outras espécies. Os pesquisadores descobriram que os crânios das pessoas com Chiari tipo I eram mais parecidos com os dos Neandertais do que com os dos humanos sem a condição. Já os outros fósseis mostraram semelhanças com crânios saudáveis.

Embora a pesquisa não comprove de forma definitiva a ligação entre o DNA neandertal e a malformação, os autores defendem que o estudo ajuda a entender melhor os fatores envolvidos no desenvolvimento da condição. Segundo o paleoantropólogo Mark Collard, coautor do estudo, entender as cadeias de causa e efeito é essencial para avançar no diagnóstico e tratamento. Ele também sugere que, se a relação for confirmada no futuro, exames genéticos para identificar essa predisposição poderiam ser incluídos nas avaliações de saúde infantil. O trabalho foi publicado em 27 de junho na revista Evolution, Medicine, and Public Health.

Imagem comparando crânios de humanos modernos (acima) e Neandertais (abaixo). (Crédito da imagem: Kimberly Plomp)
Imagem comparando crânios de humanos modernos (acima) e Neandertais (abaixo). (Crédito da imagem: Kimberly Plomp)

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