Furacões agitam o oceano profundo e trazem nutrientes à superfície

Após a passagem de um furacão de categoria 4 na costa do México, pesquisadores realizaram uma coleta inédita de amostras oceânicas e revelaram que tempestades intensas agitam as águas de forma profunda, trazendo à superfície águas frias e ricas em nutrientes essenciais para a vida marinha. Esse fenômeno promove um grande florescimento de fitoplâncton, facilmente detectado por imagens de satélite, que serve de alimento para bactérias, zooplâncton, pequenos peixes, moluscos e baleias filtradoras. Segundo o professor Michael Beman, as águas estavam visivelmente esverdeadas pela alta concentração de clorofila, e a biodiversidade local apresentou atividade intensa logo após a tempestade, mostrando o impacto imediato dos furacões nos ecossistemas marinhos.

Entretanto, além de nutrientes, o furacão também trouxe para a superfície zonas de oxigênio mínimo (OMZs), áreas com baixos níveis de oxigênio que geralmente se localizam em profundidades intermediárias e representam ameaça à fauna marinha. Essas zonas de oxigênio mínimo ocorrem naturalmente, mas sua expansão está relacionada ao aquecimento global dos oceanos, colocando em risco diversas espécies que dependem de oxigênio para sobreviver. Durante a expedição realizada em 2018, entre Mazatlán e San Diego, a equipe monitorou o furacão Bud, coletando dados cruciais próximos ao local onde o ciclone atingiu seu pico de intensidade. Essa oportunidade rara permitiu observar mudanças significativas nas concentrações de oxigênio e outros parâmetros oceanográficos.

As análises das amostras revelaram dados inéditos sobre o impacto dos furacões na química e na biologia marinha, incluindo a presença de DNA e RNA que identificaram organismos reativos ao florescimento de fitoplâncton. A presença incomum de tartarugas em regiões afastadas também sugere que esses animais podem se beneficiar das mudanças ambientais provocadas pelas tempestades. Para o professor Beman, esses eventos criam verdadeiros “oásis” biológicos em áreas oceânicas normalmente tranquilas, promovendo explosões de vida e atividade. Com a publicação dos resultados na revista Science Advances, a equipe pretende continuar as pesquisas para entender melhor como furacões influenciam os oceanos e colaborar com outros cientistas para aprimorar o conhecimento sobre esses fenômenos climáticos. “Estamos apenas começando a desvendar os reais efeitos dos furacões nos ecossistemas marinhos,” conclui Beman.

 

Mais informações: DOI: 10.1126/sciadv.ado8335

Deixe comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado. Os campos necessários são marcados com *.