Cientistas criam método com DNA de três pessoas para evitar doenças genéticas

Pesquisadores britânicos apresentaram os resultados de uma técnica revolucionária que impede a transmissão de doenças genéticas mitocondriais. O procedimento usa material genético da mãe, do pai e de uma doadora para garantir o nascimento de bebês saudáveis. O estudo, publicado no New England Journal of Medicine, já contabiliza oito crianças nascidas sem sinais dessas mutações.

As doenças mitocondriais ocorrem devido a falhas no DNA das mitocôndrias — estruturas celulares responsáveis pela produção de energia. Essas mutações, herdadas exclusivamente da mãe, podem causar problemas graves como convulsões, fraqueza muscular, atraso no desenvolvimento e até falência de órgãos. A condição afeta cerca de uma em cada cinco mil crianças.

A técnica empregada, chamada transferência pronuclear, consiste em fertilizar um óvulo da mãe com o esperma do pai, remover o núcleo do embrião resultante e inseri-lo em um óvulo doado, que contém mitocôndrias saudáveis e teve seu núcleo removido. Dessa forma, o embrião carrega o DNA nuclear dos pais e o DNA mitocondrial da doadora.

O DNA da doadora representa apenas 0,02% do genoma da criança, mas é suficiente para impedir a transmissão das mutações. As análises mostraram que os níveis de mutações herdadas das mães estavam ausentes ou abaixo do limiar considerado perigoso. As crianças, até agora, apresentam desenvolvimento normal.

Apesar dos resultados positivos, os cientistas destacam que a técnica não elimina completamente o risco. Pequenas quantidades de DNA mitocondrial da mãe podem ser transferidas junto com o núcleo, mas geralmente em níveis baixos. As crianças continuam sob monitoramento até os cinco anos para garantir a segurança do procedimento.

O Reino Unido foi o primeiro país a legalizar a doação mitocondrial, em 2015, permitindo o uso da técnica em situações clínicas controladas. Já em países como os Estados Unidos, o método ainda é proibido em humanos. O estudo incluiu 22 mulheres; oito já tiveram filhos e uma está grávida.

Apesar de críticas e debates éticos sobre possíveis impactos futuros, a técnica representa uma das maiores promessas da medicina reprodutiva. Para famílias com histórico de doenças mitocondriais, ela oferece uma chance real de ter filhos saudáveis sem recorrer a doação total de óvulos ou adotar.

 

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