Astrônomos descobrem ‘tornados espaciais’ no centro da Via Láctea

Pesquisadores utilizando o Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA) obtiveram imagens com 100 vezes mais detalhes da turbulenta região ao redor do buraco negro supermassivo no coração da Via Láctea. Esse estudo revelou estruturas filamentares inesperadas em meio ao gás e poeira da zona molecular central (CMZ), uma área conhecida por sua atividade extrema, mas cujo funcionamento interno ainda não é completamente compreendido.
O monóxido de silício (SiO) é um marcador confiável de ondas de choque em nuvens moleculares, e sua emissão, juntamente com outras moléculas, permitiu identificar longos filamentos estreitos sem ligação com regiões de formação estelar. Esses filamentos não se comportam como fluxos de saída conhecidos e não possuem associação com poeira, desafiando explicações convencionais.
Filamentos finos na CMZ. (Astronomy & Astrophysics (2025). DOI: 10.1051/0004-6361/202453191)
Xing Lu, pesquisador do Observatório Astronômico de Xangai, comparou essas estruturas a “tornados espaciais”, pois são correntes violentas de gás que se dissipam rapidamente e redistribuem matéria de forma eficiente. A equipe de astrônomos sugere que choques geram esses filamentos, liberando moléculas como CH3OH, CH3CN e HC3N no meio interestelar, alimentando um processo cíclico de circulação de material na CMZ.
A alta resolução do ALMA foi essencial para detectar esses filamentos em uma escala extremamente pequena de 0,01 parsec. Essa descoberta pode indicar um mecanismo equilibrado de remoção e reposição de matéria na região central da galáxia, onde os filamentos se formam, se dissipam e eventualmente suas moléculas voltam a se integrar aos grãos de poeira.
O SiO, em particular, se mostrou uma ferramenta crucial para rastrear esses processos, pois só é detectado em áreas de alta densidade e temperatura, onde choques ocorrem. A presença de masers de CH3OH e outras moléculas complexas reforça a hipótese de que os filamentos são produtos diretos dessas perturbações violentas.
Os cientistas esperam que novas observações do ALMA, abrangendo diferentes transições do SiO e estudos detalhados de toda a CMZ, juntamente com simulações computacionais, possam esclarecer a origem desses filamentos e confirmar o papel dos choques no ciclo contínuo de transformação da matéria no centro da Via Láctea.