Planetas semelhantes à Terra podem ser mais raros do que se pensava

Uma nova pesquisa da Universidade da Califórnia em Irvine revela que muitos exoplanetas descobertos até hoje podem ser maiores do que os cientistas estimavam. Essa constatação muda significativamente as previsões sobre quantos planetas realmente se assemelham à Terra e podem abrigar vida. O estudo analisou novamente dados do satélite TESS, da NASA, responsável por identificar planetas fora do sistema solar observando pequenas quedas na luminosidade das estrelas quando um planeta passa à sua frente. No entanto, os pesquisadores descobriram que a presença de luz de estrelas vizinhas pode interferir nessas medições e fazer com que os planetas pareçam menores do que são.
Esse tipo de interferência, conhecida como contaminação de luz, afeta diretamente a precisão das estimativas do tamanho dos planetas. Isso tem levado a uma supervalorização do número de mundos pequenos e rochosos, semelhantes à Terra. Para corrigir o problema, os cientistas combinaram dados do satélite europeu Gaia com modelagem computacional avançada, desenvolvendo uma nova forma de calcular o verdadeiro tamanho dos exoplanetas observados. O modelo, criado por Te Han, mostrou que muitos desses planetas são, na realidade, consideravelmente maiores do que se pensava.
Antes da correção, apenas três planetas descobertos pelo TESS eram considerados semelhantes à Terra em termos de tamanho e composição. No entanto, com a nova análise, esses três mundos foram reclassificados e já não atendem mais aos critérios necessários para serem considerados habitáveis. A consequência direta dessa descoberta é uma redução ainda maior no número de planetas que podem, de fato, possuir condições parecidas com as do nosso planeta. Isso torna a busca por vida fora da Terra mais difícil e aponta para a possibilidade de que planetas como o nosso sejam mais raros do que imaginávamos.
A maioria dos planetas reavaliados parece se encaixar em uma categoria diferente, conhecida como mundos oceânicos ou planetas hícicos. Esses corpos celestes possuem grandes oceanos globais e, muitas vezes, atmosferas densas. Apesar de conterem água, um dos ingredientes essenciais para a vida, eles podem não ter outros elementos importantes, como solo rochoso, ciclos geológicos ativos ou composição atmosférica adequada. Esses fatores reduzem a chance de que esses mundos sejam capazes de sustentar formas de vida semelhantes às que conhecemos na Terra.
Essas novas informações também impactam diretamente o planejamento das futuras observações astronômicas, especialmente com o Telescópio Espacial James Webb. Como esse telescópio tem capacidade para analisar as atmosferas de exoplanetas, é fundamental escolher alvos com potencial real de habitabilidade. A revisão dos tamanhos planetários significa que os critérios de seleção precisarão ser atualizados para que os esforços de observação sejam direcionados de forma mais eficiente e precisa.
O estudo, publicado em 14 de julho no periódico Astrophysical Journal Letters, é um lembrete importante para a comunidade científica sobre os desafios técnicos na análise de exoplanetas. A busca por planetas habitáveis e por vida fora do nosso sistema solar continua sendo uma das maiores prioridades da astronomia moderna. No entanto, os resultados mostram que esse caminho é mais complexo do que se pensava. Ao mesmo tempo, com ferramentas mais precisas e análises mais rigorosas, estamos nos aproximando de uma compreensão mais realista da diversidade de mundos existentes no universo.