Startup testa com sucesso implante cerebral em paciente humano

A empresa de tecnologia neural Paradromics alcançou um marco importante no desenvolvimento de sua interface cérebro computador ao realizar, com sucesso, a primeira inserção do seu implante Connexus em um ser humano. O procedimento ocorreu em 14 de maio, durante uma cirurgia de epilepsia na Universidade de Michigan. O paciente autorizou voluntariamente a inserção temporária do dispositivo, que permaneceu por cerca de 10 minutos no lobo temporal, região do cérebro envolvida no processamento auditivo e na formação de memórias. Após a remoção, os pesquisadores confirmaram que o Connexus conseguiu captar sinais neurais, validando sua funcionalidade inicial em humanos.
O Connexus é um implante miniaturizado, com menos de 2 cm de diâmetro, que possui 420 microeletrodos projetados para penetrar diretamente no tecido cerebral. Esses eletrodos registram a atividade de neurônios individuais, oferecendo um sinal de altíssima resolução. Essa abordagem se diferencia de empresas concorrentes, como Synchron e Precision Neuroscience, que estão desenvolvendo implantes menos invasivos que captam sinais de grupos de neurônios a partir da superfície do cérebro ou de vasos sanguíneos. Para a Paradromics, a proximidade com os neurônios é essencial para interpretar com precisão os sinais relacionados à fala e ao movimento.
O principal objetivo da Paradromics é devolver a capacidade de comunicação a pessoas com paralisia, AVC ou ELA. O dispositivo traduz os sinais neurais gerados pelas tentativas de movimentos faciais, como os da fala, em fala sintetizada, texto ou controle de cursores. Mesmo que um paciente não consiga fisicamente falar, ele ainda pode gerar os padrões neurais correspondentes, os quais o implante pode captar e interpretar. Em 2023, estudos em Stanford e na Universidade da Califórnia demonstraram que implantes semelhantes foram capazes de decodificar até 78 palavras por minuto, um avanço significativo considerando que a fala natural gira em torno de 130 palavras por minuto.
A empresa agora se prepara para iniciar ensaios clínicos prolongados até o final do ano, implantando o Connexus em pacientes com paralisia de forma permanente. Esses testes irão avaliar a segurança, durabilidade e eficiência do dispositivo no uso diário. Futuramente, a Paradromics pretende estudar a viabilidade de implantar até quatro unidades simultaneamente em um mesmo cérebro, aumentando ainda mais a capacidade de captação e controle de dispositivos externos. No entanto, o passo atual é garantir que um único implante possa funcionar de forma estável e segura por longos períodos.
Historicamente, a pesquisa em interfaces neurais foi dominada por tecnologias como o Utah Array, que permitiu a pessoas com paralisia controlar braços robóticos ou cursores com o pensamento. Porém, esses dispositivos exigem conexões externas visíveis e podem deteriorar o tecido cerebral com o tempo. Paradromics, Neuralink e outras startups estão buscando criar versões mais modernas e menos invasivas, com mais canais de leitura e maior biocompatibilidade. Como destacou uma pesquisadora da Universidade de Pittsburgh, este primeiro teste serve como um ensaio técnico completo para procedimentos futuros, um passo crucial no caminho para tornar essas interfaces uma realidade clínica.