Debate sobre vida alienígena esfria após revisão de sinais químicos em exoplaneta

A recente empolgação com possíveis sinais de vida em um planeta distante está sendo rapidamente questionada por novos estudos. K2-18b, localizado a 124 anos-luz da Terra, na constelação de Leão, chamou atenção após uma equipe de astrônomos afirmar ter detectado indícios de compostos químicos que, na Terra, estão associados exclusivamente à presença de organismos vivos.

Utilizando o telescópio espacial James Webb, o grupo liderado por Nikku Madhusudhan, da Universidade de Cambridge, identificou vestígios das substâncias dimetil sulfeto (DMS) e dimetil dissulfeto (DMDS), associadas à atividade de algas marinhas em nosso planeta. Embora os próprios pesquisadores tenham adotado uma postura cautelosa, frisando que não se tratava de uma confirmação definitiva, a notícia gerou grande repercussão. Segundo Madhusudhan, os dados atingiram um nível de confiança estatística chamado de três sigma, o que ainda representa uma chance de 0,3% de ser apenas um ruído nos dados.

No entanto, em poucas semanas, análises independentes começaram a lançar dúvidas sobre essa interpretação. Dois ex-alunos de Madhusudhan, Luis Welbanks e Matthew Nixon, reavaliaram os mesmos dados utilizando modelos mais abrangentes. Em vez de analisar apenas 20 compostos químicos como no estudo original, eles ampliaram a lista para 90. Mais da metade desses compostos se ajustou aos sinais detectados, o que diminui drasticamente a força da evidência inicial para os possíveis bioindicadores. Welbanks levantou a seguinte questão: se praticamente qualquer molécula pode explicar o sinal, será que de fato encontramos algo?

A equipe original também respondeu às críticas com uma nova versão de sua análise, agora considerando mais de 600 moléculas diferentes. DMS continuou aparecendo como uma das candidatas mais promissoras, mas DMDS, que havia sido parte central do anúncio anterior, não foi detectado dessa vez. Os outros dois compostos destacados foram dietil sulfeto e metil acrilonitrila, este último tóxico e improvável de estar presente em um planeta como K2-18b.

Outras equipes, como a liderada por Rafael Luque da Universidade de Chicago, também não encontraram evidências estatisticamente relevantes para DMS ou DMDS, mesmo após combinar observações em diferentes faixas do espectro infravermelho. Um estudo separado feito por Jake Taylor, da Universidade de Oxford, chegou à mesma conclusão usando testes estatísticos mais simples.

Mesmo diante das críticas, Madhusudhan continua defendendo a robustez de sua pesquisa e espera que novas observações tragam mais clareza nos próximos meses. Ele reconhece que, mesmo que a presença de DMS seja confirmada, isso por si só não seria prova de vida, já que a substância pode ser encontrada em corpos celestes inanimados.

Para os cientistas envolvidos, o debate é positivo e necessário. A busca por vida fora da Terra está mais próxima do que nunca de se concretizar, mas requer paciência, rigor e uma abordagem cuidadosa. Como observou Nixon, é fundamental seguir métodos científicos consistentes e evitar conclusões apressadas baseadas em dados ainda inconclusivos.

 

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